O que é fantasia em psicologia?
É um mecanismo de defesa que proporciona uma satisfação ilusória para os desejos que não podem ser realizados. A fantasia é criada pelo inconsciente para dar a idéia de satisfação, mas essa satisfação substitui a satisfação real. Na verdade a fantasia é uma síntese de idéias, sentimentos, interpretações e memória, com predomínio de elementos instintivos e afetivos. Por meio da satisfação substituta e da omissão da realidade, a fantasia pode ajudar a resolver os conflitos e prevenir a angústia. Entretanto, uma dose constante e profunda de fantasia e devaneio pode fazer com que a pessoa se desvie da realidade, acostumando-se a um mundo irreal, e dificultar o enfrentamento dos problemas concretos.
Qual a diferença entre sonhar durante o sono e sonhar acordado?
A diferença é que nos sonhos temos pouco controle sobre os conteúdos. O sonho é a realização disfarçada de um desejo reprimido, ou a tentativa de realização de um desejo. Mas é um produto do inconsciente, de forma que não pode ser controlado pelo indivíduo. Já no devaneio (sonhar acordado) podemos criar ou recriar uma “cena” com o propósito de gerar satisfação quando e quantas vezes desejarmos
O ser humano está sujeito a ter e a alimentar fantasias relacionadas com o sexo? Por que isso acontece?
Sim, porque fantasiar sobre sexo é um recurso que homens e mulheres utilizam para alcançar o prazer. As fantasias surgem e são utilizadas para várias finalidades, como: aumentar o prazer da atividade sexual; substituir a experiência real, muitas vezes inacessível; induzir a excitação ou o orgasmo. Prestam-se como “ensaio mental” para experiências sexuais posteriores e fornecem um meio seguro e controlado de experimentar o sexo sem culpa ou constrangimentos, pois requerem um parceiro real.
A fantasia pode preceder o assédio sexual?
Acredito que a fantasia alimenta o desejo, seja ele qual for. Entendemos o desejo como um impulso não satisfeito que resulta no surgimento de uma tensão. Assim, quando o indivíduo pensa na coisa ou na pessoa desejada, está criando ou aumentando uma tensão psíquica e gerando dentro de si uma auto-motivação que o levará a agir no sentido de satisfazer o desejo.
A fantasia meramente romântica de uma mulher casada por um homem solteiro ou casado e de um homem casado por uma mulher solteira ou casada pode levá-los à infidelidade conjugal?
Em termos simples, sim. Se pensarmos que a infidelidade pode ocorrer principalmente em momentos de crise no relacionamento, muitos homens e mulheres, diante dos conflitos, recorrem a um escape para aliviar as angústias e obter prazer. Nesses momentos as fantasias são alimentadas devido ao envolvimento afetivo e à atração física por outra pessoa.
Esse tipo de fantasia é mais comum entre mulheres ou entre homens? Há diferença entre as fantasias de uns e de outros? Em que faixa etária ela é mais freqüente?Pode se manifestar com uma pessoa casada tanto quanto com uma pessoa solteira?
As fantasias sexuais não apresentam variações significativas em função da idade, pois elas são inerentes ao ser humano, desde a infância até a velhice; o que muda é o conteúdo. Alguns estudos mostram que geralmente os conteúdos das fantasias masculinas dão ênfase no contato erótico e na relação sexual em si, transformando o sexo na afirmação da masculinidade. As mais comuns são: ter relação com duas mulheres ao mesmo tempo, ter relação com mulheres famosas e ter relação em grupo. Já as fantasias sexuais femininas mais freqüentes são: ter relação em lugar romântico (cabana, praia etc.), ter relações com homens famosos e ser dominada pelo parceiro. Segundo Freud a fantasia teria três níveis: o consciente, o pré-consciente (ou subliminar) e o inconsciente. Isso se aplica à fantasia sexual?
Ao percorrermos a obra de Freud em busca do que ele teria a dizer sobre o conceito em questão, percebemos que as fantasias se situam exatamente na oposição entre o subjetivo e o objetivo, entre o princípio do prazer, que reza a busca da satisfação por meio da ilusão, e o princípio da realidade, que, mediante o sistema perceptivo, trata das relações do sujeito com o mundo exterior e com as restrições por ele impostas. Assim, é justamente a introdução do princípio de realidade que induz à formação de uma nova atividade do pensamento — a produção de fantasias —, submetida ao princípio do prazer e distanciada das exigências do mundo externo. Freud explica que na fantasia o sujeito perpetua uma certa sensação de liberdade à qual teve de renunciar em função da realidade. O homem, ser racional e dotado da capacidade de controlar suas vontades, permanece, com a atividade da fantasia, o animal que busca o prazer.
A fantasia aparece de repente ou é forjada pela própria pessoa? Pode ser resultado de alguma circunstância temporária?
As fantasias sexuais são inevitáveis e reflexos de necessidades e desejos não satisfeitos por imposições e repressões de uma realidade objetiva, seja ela qual for. Pode, sim, ser resultado de uma circunstância específica, como a ausência temporária da pessoa desejada.
Em sua opinião, o ser humano está sujeito à fantasia em outras áreas da vida? Quais?
Sim, sempre fantasiamos o que não temos e não somos, e gostaríamos de ter e ser. Isso é mais recorrente do que imaginamos. Atos cotidianos como ler uma história infantil para nossos filhos com um belo fundo moral ou ver um filme de romance com final feliz alimentam inconscientemente as fantasias de possuir uma vida perfeita, e isso em si não é ruim. As fantasias podem nos motivar a buscar não “algo perfeito”, mas a satisfação. O que ocorre e é perigoso é que “pegamos emprestados” valores, conceitos e modelos de felicidade e satisfação de novelas e romances, que geram em nós grandes frustrações. Quando nos sentimos frustrados e reprimidos tendemos a realimentar as fantasias. Diante disso, vemos o lado negativo da fantasia. O lado positivo delas é que buscam suprir as lacunas existentes em nossa vida afetiva, profissional, financeira etc., gerando motivação para alcançar objetivos traçados. Porém não devemos permitir que elas dominem nossa atividade real. A realidade precisa ser vivida e modificada com base na objetividade.